Mobilidade urbana, gentrificação, arquitetura hostil e o direito à cidade
Por Glenda Gonçalves Estrela (Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo da FASC)
O mundo está sendo cada vez mais urbanizado, com as cidades sendo o epicentro da vida moderna desempenhando um papel fundamental na vida das pessoas. No entanto, a maneira como é desenvolvida e planejada as áreas urbanas gera constantemente uma série de desafios associados à mobilidade urbana, gentrificação, arquitetura hostil e o direito à cidade. Neste artigo de opinião, exploraremos esses quatro desafios urbanos interligados, analisando seus impactos no cotidiano da população urbana.
A mobilidade urbana refere-se à forma como as pessoas se deslocam dentro de um ambiente urbano, uma questão que traz consigo desafios complexos que atingem o bem-estar e qualidade de vida dos habitantes urbanos. As cidades encaram inúmeros desafios relacionados à mobilidade, sendo alguns deles o congestionamento, a poluição do ar e a desigualdade de acesso a opções de transporte. Isso afeta negativamente a vida das pessoas que gastam horas paralisadas no trânsito resultando em atrasos, estresse e impactando na qualidade do ar, gerando problemas de saúde pública e reduzindo significativamente a qualidade de vida urbana.
Da mesma forma, a gentrificação, apesar de ser um fenômeno diferente, compartilha uma conexão com esses desafios urbanos, referindo-se ao processo de transformações de bairros urbanos antes habitados por pessoas de baixa renda devido a melhorias na infraestrutura e investimentos, atraindo uma classe de maior renda. Embora traga melhorias à infraestrutura local, como a renovação de edifícios e desenvolvimento de espaços públicos, também pode resultar na expulsão dos moradores de baixa renda. À medida que os preços dos imóveis aumentam geralmente as pessoas que ali residiam são forçadas a se deslocarem para regiões mais afastadas por não poderem mais arcar com os custos, podendo levar à restrição do acesso a oportunidades de trabalho, estabelecimentos educacionais e serviços que anteriormente estavam facilmente acessíveis.
As metrópoles ao redor do mundo estão em constante transformação, evoluindo em centros de inovação, cultura e oportunidades. Entretanto, no centro desse avanço, surge uma tendência preocupante: a arquitetura hostil. Essa prática arquitetônica tem como alvos grupos sociais específicos, frequentemente os mais desfavorecidos com o intuito de afastá-los dos espaços públicos. A arquitetura hostil consiste na concepção de ambientes urbanos que desfavorecem ou impossibilitam determinados comportamentos, como o uso de bancos com divisórias para evitar que pessoas em situação de rua durmam neles. Sendo justificada como uma estratégia de segurança ou prevenção ao vandalismo, a abordagem que limita o espaço público destaca questões essenciais relacionadas à equidade, inclusão e o aspecto humanitário em nossas cidades.
Assim que essa maneira é implementada nas cidades, ela traz consigo um impacto desproporcional sobre a população mais vulnerável, especialmente as pessoas sem-teto. Isso agrava a situação ao negar a essas pessoas o direito fundamental de habitar no espaço público, em vez de lidar com a falta de moradia e os problemas sociais, tal abordagem transforma os espaços públicos em locais de hostilidade afetando negativamente essa população.
Nas últimas décadas, houve uma movimentação de pessoas migrando das áreas rurais para ambientes urbanos, fazendo com que nossas cidades se tornassem os principais pontos de concentração populacional. No entanto, à medida que as cidades se expandem, surge uma questão de grande importância: o direito à cidade. Trata-se de um conceito fundamental que enfatiza a necessidade de cidades inclusivas, onde todos os cidadãos possuem o direito de desfrutar da igualdade de acesso e participação na vida urbana. Isso inclui o acesso à moradia adequada, ao transporte acessível e aos espaços públicos, que são aspectos essenciais nesse direito. Entretanto, o direito à cidade enfrenta desafios consideráveis, incluindo a gentrificação, o acesso desigual a serviços e a falta de moradia. Para enfrentar esses desafios, as cidades precisam implementar políticas urbanas que priorizem a justiça e a igualdade, assegurando que todas as pessoas possam ter igualdade no acesso aos benefícios da vida urbana.
Compreender a conexão entre mobilidade urbana, gentrificação, arquitetura hostil e o direito à cidade é de extrema importância para enfrentar de maneira eficiente os desafios nas áreas urbanas. Para construir cidades mais equitativas e sustentáveis, precisamos considerar esses elementos em conjunto, com uma abordagem colaborativa entre governos, arquitetos, urbanistas e comunidades locais.
Portanto, é essencial oferecer soluções de mobilidades acessíveis a todos, com abordagens para renovar bairros sem prejudicar os moradores originais criando espaços acolhedores e acessíveis. Isso reflete não apenas na melhoria da infraestrutura, mas também no compromisso com os direitos humanos e a justiça social promovendo cidades que realmente atendam às necessidades de todos os seus habitantes. O futuro de nossas cidades está ligado a essas mudanças cruciais.
*Texto produzido na disciplina Leitura e Produção Textual ministrada pelo professor José Roberto Duarte